segunda-feira, novembro 13, 2006

Apenas mais uma trincheira

de Thiago Berzoini
Adormecera na trincheira, ao som de balas zunindo e explosões ao longe. Abriu os olhos quando ouviu balbuciar dócil ao longe, e assustou-se. Olhou para os lados e nada viu, a arma estava caída a seu lado, e ele logo a pegou, ajeitando-a, virou-se de bruços e lentamente pôs-se a postos.
Não entendia como havia conseguido adormecer em meio aquele barulho, aquele caos que fora constituído naquele tarde. Era assim a guerra. Verde e mais verde, e toda beleza se esvaía de maneira caótica com o fogo, a pólvora e o sangue. Sim, o sangue. Mas não havia sangue ali. Ele podia perceber corpos por todos os lados, mas não perto de sua trincheira. Lembrava de como caiu no sono. Pensava em uma garota da rua de baixo, que deixara em Ohio. Queria escrever uma carta para ela, quando as coisas se acalmassem. Havia urgência em dizer a ela o quanto ele a desejava, porém nunca o fazia. Tudo era sempre agitado e nunca conseguia ficar traqnuilo para escrever. Mas havia durante a confusão da tarde, colocado em mente que faria isso ao anpoitecer se ainda estivesse vivo quando a noite chegasse. e lá estava ele, vivo. Mas ainda assim não escrevia nada. Procurou papel e caneta, mas só haviam balas, morfina, armas de fogo e brancas, e em seus acessórios nada que pudesse ser usado para escrever, mas sentia necesssidade de enviar logo uma carta para a tal garota. Essa necessidade era maior, crescente a cada minuto, a cada segundo. Depois do que presenciara queria ter a certeza que falaria a ela. Mas mesmo que dissesse ainda haveria um probelma, qual o número da casa dela? ele não sabia...ou não se lembrava. Após alguns minutos pensativo em sua trincheira, lançou ao léu breve sorriso. Poderia anexar a carta "dentro da carta" que escreveria para sua mãe, e ela encarregaria-se de entregar para a tal garota, ele explicaria tudo para sua mãe e ela não se oporia a fazer esse favor ao filho que lutava na guerra.
Mas seus pensamentos foram interrompidos por uma voz infantil que se aproximava. Ergueu com cautela sua cabeça, e viu o garoto se aproximar. "Não mais que cinco anos", pensou o jovem soldado enquanto se aproximava o garotinho. vestia uma bermuda, sem camisa e descalço, seus cabelos estavam despenteados. Sua face a medida que se aproximava, olhando assustado para os lados e os corpos caídos, ficara aparente. estava suja de graxa, as lágrimas desciam juntamente estava assustado, e soluçava bastante. Falava vietnamita. O Soldado não entendeu. Percebendo a tranquilidade ergueu a mão, chamou o garoto.
Provavelmente sem entender nada ele aproximou, com um andar apressado, tropeçou e ameaçou a cair, mas se equilibrou e veio de encontro ao soldado, chorava muito.
Fora da trincheira, despreocupado - pois havia um mórbido silêncio na floresta quebrado apenas pela criança - o soldado caminhou até o garoto, encontrando-o no meio do caminho. Pegou-o no colo e lhe perguntou o que fazia ali, sem pai nem mãe. Não recebera nenhuma resposta. Virou-se de volta à trincheira. "Não é seguro ficarmos aqui" disse ele.
Ouviu um disparo seguido de duas vozes. Suas pernas bambearam e seu peito ardeu como nunca nenhuma dor de amor lhe fez doer.
Caiu de joelhos largando a criança, esta que por sua vez cai ao chão aos prantos, e já sem forças para falar, sussurrou: "Mordi a maldita isca". Mais um disparo ouviu-se em coro com o choro da criança e os gritos que vinham da mata, o jovem soldado sentiu um novo baque, sua cabeça chacoalhou-se de forma brusca, e ele caiu e sem se mexer. Da mata dois homnes saíram, gargalhavam em meio à escuridão.
A criança chorava e engatinhava rumo a trincheira...

1 Experimentaram o Café:

Anonymous Anônimo experimentou...

Muito forte o conto! Brilhante, como sempre!

Te vi no site, fico feliz q tenha se cadastrado! É um projeto interessante, os melhores microcontos serão publicados numa revista carioca!

Quando eu tiver tempo vou escrever mais coisa..."O homem que amava tango" eu escrevi pro site... não sei se vc percebeu mas fala da morte rs

Da uma lida nos contos da Adriana Jorgge, ela é uma escritora amiga da minha mãe que me recomendou a página.

Ah, estou em Cataguases, quando voltar tomaremos o misterioso matte suiço rsrsrsrs

Beijinhos

9:02 AM  

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