terça-feira, novembro 21, 2006

Ai, esses minutos de fama...

Thiago Berzoini

A moto era já velha, não era nem sequer importada. Notava se tratar de um rapaz humilde. Eu me lembro, ainda, e exatamente, seu nome, se é que faz-se importante nesse caso dar “nome aos bois”, como dizem. O que me chamou atenção, e creio eu, deve também chamar a atenção de outras pessoas que assistiram ao ocorrido, era o alto teor alcoólico que o indivíduo se encontrava sob efeito. E é por isso que, inicialmente, conto a seu respeito.
Não conseguia pronunciar uma letra sem arrastá-la verbalmente por menos de 3 segundos. Não, não cronometrei, mas digo isso com a certeza de quem houvera cronometrado. A roupa era uma simples camiseta preta, com alguns dizeres desbotados, e a calça jeans engolia pouco dos pés, que estavam á mostra com chinelo velho que protegia a sola dos pés do rapaz. Sua expressão trazia um riso bobo a quem o olhava, bobo por dois motivos. Era um riso interrompido pois despertava o deboche e o medo por parte de quem o fitava. O deboche, é claro e evidente, pela forma com que sua voz se fazia ouvir, e o medo, devido a apreensão pois embriagado, ele poderia perceber o riso e sentir-se ofendido e o que faria a partir dali poderia tanto ser juntar-se ao riso ou agredir física ou verbalmente quem mantivesse estivesse em sua direção. Ele já havia percorrido alguns quarteirões e a polícia atrás dele. Não sei como conseguiu se locomover sem provocar acidente qualquer, mas conseguiu, mesmo estando naquele estado deplorável. Eram dois os policiais que o abordaram, e o levaram para a delegacia, e lá, o pobre homem tornou-se manchete local. Falava sobre o "cão dos infernos" como quem lhe servia a bebida, não um dono de venda, nem garçom. Era o "cão dos infernos". Mas a voz era arrastada, e o repórter debochava, enquanto fazia suas perguntas. Até o momento que o repórter pediu para que ele cantasse e incompreensível, ele tentou cantar, soava engraçado, realmente hilário. E após isso, cansado de humilhar inda mais o bebum, e provavelmente por ter em mente eu a exposição do homem ao ridículo já fartaria ao público, encerrou o papo com o centro das atenções e voltou-se ao policial que efetuou sua prisão. “Câmera close” no policial, e a música de fundo continuava, a voz oscilante do bêbado soava mais alto ainda, e a música era irreconhecível, não só para mim, acredito fervorosamente que também para os demais que assistiam a isso. O homem da lei ria enquanto falava o que levara o bêbado a ser autuado. Dirigir embriagado, sem carteira, oferecendo riscos aos transeuntes e demais motoristas.
Ocorreu em São Paulo, e fora registrado por um jornal local. O mais surpreendente, entretanto, é ver num belo dia, ao navegar pela rede mundial de computadores, que a reportagem fora ao ar no estrangeiro, em um programa onde se apresentavam “coisas ridículas”, e ver o homem obter seus quinze minutos de fama, agora em solo americano. Não tardou a cair na rede também, onde seus quinze minutos, tornaram-se quinze dias. E até hoje, passado alguns quinze meses, cai-se em alguma página de internet que sustenta o link do tal programa do estrangeiro onde o vídeo pode ser visto, e fico pensando se o rapaz sabe que "é notícia".
Pasmem, o repórter é mero coadjuvante, desses que por melhor que sejam, são sempre coadjuvantes e nada mais. Eles vão sempre se lembrar dele, o bêbado...
Sim, agora percebo, é importante dar “nome aos bois” nesse caso.
Não era um caso digno de matéria em jornal, ainda mais numa cidade grande como São Paulo...houve no dia pauta mais importante e que ficara de fora do noticiário. Não, eu não tenho essa informação concreta, mas posso afirmar com a devoção de quem a tivera apurado.
Me recordo ainda, era Jeremias....porém o nome do repórter, por mais que eu tente, me esforce, puxe com todas as forças possíveis em minha memória, eu não me lembro...

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