quinta-feira, novembro 30, 2006

Pequeno trecho de "Seca"

Thiago Berzoini

"Acordei, bebi dois dedos de café aguado, lavei o rosto com água quente e escurecida que os meninos matreiros, filhos de João Moreno e dona Fofa, nossos vizinhos, trouxeram para minha casa, há dez dias atrás. Coloquei uma roupa velha e calcei minhas desgastadas sandálias de couro, que ganhei do velho fazedor de sandália da região, o seu Muca, falecido já há 4 anos. Vim ter com Zé Aluado. Falamos de como era triste esse calor, e que a chuva se descesse refrescaria e ajudaria na pesca e na plantação. "Estão cortando cana, mas não dá muito dinheiro" resmungou Aluado. Era assim, meio aluado, meio..."zoró", mas tinha razão, não estão pagando muito no corte da cana. Queria voltar a pescar mas nem rio aqui tem. Tenho na memória um dia, quando ainda jovem passeava com Olívia na beira do rio, ela tinha um corpo vistoso, mas anda magra que só vendo, dá até tristeza.
Amei muito Olívia, hoje em dia só sei ter pena. Até teus seios parecem secos, e se os visse hoje não me dariam a água na boca, a sede que me provocavam há 10 anos atrás. Se a vida é lembrança, a vida é tristeza..."

4 Experimentaram o Café:

Blogger Ísis experimentou...

Depois de ler seus textos eu penso "putz eu conheci o Thiago Berzoini"
Quando vc for famoso quero um livro autografado ahuahauhauhauhaha

9:21 PM  
Anonymous Anônimo experimentou...

Oi, gostei muito das palavras... Coleciono palavras... Vou te linkar, se houver problema me dá um toque? Bjs!

3:01 PM  
Blogger Rosa experimentou...

eu acho que é exatamente assim. Quando secam as subjetividades, o corpo responde, igualmente seco, em sintonia com o meio.
Determinismo em tudo. Sempre.


adorei. Assídua por aqui, prometo.

11:23 PM  
Blogger damourax experimentou...

Ah
fiquei com sede

e pena...

rs

9:41 PM  

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