terça-feira, dezembro 12, 2006

Ah, Maldita Glória!


de Thiago Berzoini

A noite estava agradável. Havia um leve perfume que o vento trazia até a mim, era um perfume das flores que se encontravam acima da mesa. Misturava-se ás vezes com o cheiro de meu café, forte e com muito açúcar. É assim que eu gosto do meu café, bem doce. Mais uma noite e eu sequer me importo por ela, Glória, estar atrasada novamente. Eu estava ali uma vez mais, sozinho, e tomava lentamente o meu café. Havia uma música em minha mente, e ela não me largava. Enquanto tomava o café e olhava sem muita atenção para a rua, ela se repetia e repetia. Porém era o refrão apenas que me marcava mais “Stormy weather”, na voz da magnífica Ella Fitzgerald. Eu mesmo cheguei a cantarolar, bem baixo...
Eu olhei meu relógio, faltavam alguns minutos para meu compromisso e percebi que no casarão, logo do outro lado da rua, haveria mais um baile. Seus motivos eu desconhecia. Talvez fosse aniversário da filha de algum general, ou simplesmente algum senhor quisera agradar a comunidade.
Quando o simca chambord estacionou, e devia ser o modelo do ano, um 1958, vermelho e branco, com a lataria brilhando. Estacionou, e dele desceu egrégio senhor, de terno branco, gravata preta, cabelos com brilhantina. Fiquei a imaginar-me dirigindo um daqueles! Mas claro, nossa situação não permitiria que eu possuísse um belo automóvel como o do tal homem.
Tomei mais um gole do café. E vi o proprietário do simca chambord atravessando a rua, com passos largos e calmos, até que chegou à minha mesa.

- Se importaria se eu me sentasse aqui? - Disse ele

“De forma alguma”, respondi, ressabiado com a pergunta do homem. Pois havia mais de cinco mesas disponíveis, e ele quis sentar-se logo em minha mesa. Chamou o garçom e pediu um capuccino. Recostou-se na cadeira de ferro, e olhou para o tal casarão. Começou então a me dizer então, do que se tratava a tal festa, e que ele não queria estar ali. Preferia, assim como eu, aproveitar a noite tomando um café, solitário, saboreando seu charuto. O rapaz era amigo da filha do anfitrião, e por isso estava ali. Reclamava de como era incomodo fazer parte daquele círculo, e que gostaria de abrir mão desses eventos torpes. Porém necessitava “fazer o social” e isso sempre lhe demandava a presença em tais ocasiões. Ele falava com certa tristeza, enquanto fitava o movimento do outro lado darua. Parou de falar quando o garçom deixou o capuccino à sua frente. Educadamente o senhor agradeceu, e sorriu para mim, tomando seu capuccino. Um silêncio tomou conta de nossa mesa, e eu queria lhe dizer que dava tudo para estar naquela festa com Glória, mas achei que não seria de bom tom, e ficava pensando em outro assunto, enquanto ele distraído, se deliciava com o que havia pedido.
- É um belo carro... – eu falei com breve sorriso.
- Simca Chambord é perfeito. –Disse ele, colocando a xícara em cima da mesa, e estendendo a mão para me cumprimentar – Foi um prazer.
Cumprimentamo-nos, e ele levou sua mão ao bolso deixando o dinheiro abaixo da xícara. Passou as mãos nos cabelos, ficou de pé, e voltou-se em direção ao seu destino inicial.
Na calma em que chegou, foi embora. Lembrei-me de olhar no relógio, e vi que a sessão de cinema já havia começado...
“Maldita Glória, me deixou aqui novamente esperando”, resmunguei enfiando a mão no bolso.
Levantei-me, paguei meu café, e saí à procura de um táxi. Mas não deixei de pensar o quão maldita era Glória. Mas isso acabaria naquela noite.

1 Experimentaram o Café:

Blogger damourax experimentou...

Ah, jah sabia do texto, então perdeu um pouco a graça

Li esse texto e pensei: NOSSA!! Thiago q o fez com certeza! Morte, final sem noção, início sem noção, meio sem noção heuahseuhsaeu XD

Mto legal!! =]



PS.: (te vi nesse texto mocinho :P)

11:14 PM  

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