quarta-feira, dezembro 27, 2006

Faltam palavras

de Thiago Berzoini

Como me agonia
os ponteiros girando
e essa página vazia,
dia após dia
nem poema, nem conto
apenas apatia.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Praxe

de Thiago Berzoini

Há sempre enorme vazio
nesses vomitórios intermináveis?

Se me pergunta se faz frio
ou se meus cães são tão amáveis,
seria isso por falta de brio
ou por mero desinterresse
em me fazer melhor análise?

Se tenho cães ou sinto frio,
Acredite,
não altera a nossa paráfrase.

sábado, dezembro 16, 2006

Não me acorde não.

de Thiago Berzoini

Tilintar das gotas,
não me acorda não.
Deixa eu dormir mais um pouco
que é para sentir o chão
tão duro que é macio
com esse sono louco
pesado e tardio.
Que é para sentir o frio
que sopra sem dó,
nem piedade,
um desvario!
Tilintar de gotas
no telhado de zinco frio,
não, não me acorda, não!

terça-feira, dezembro 12, 2006

Ah, Maldita Glória!


de Thiago Berzoini

A noite estava agradável. Havia um leve perfume que o vento trazia até a mim, era um perfume das flores que se encontravam acima da mesa. Misturava-se ás vezes com o cheiro de meu café, forte e com muito açúcar. É assim que eu gosto do meu café, bem doce. Mais uma noite e eu sequer me importo por ela, Glória, estar atrasada novamente. Eu estava ali uma vez mais, sozinho, e tomava lentamente o meu café. Havia uma música em minha mente, e ela não me largava. Enquanto tomava o café e olhava sem muita atenção para a rua, ela se repetia e repetia. Porém era o refrão apenas que me marcava mais “Stormy weather”, na voz da magnífica Ella Fitzgerald. Eu mesmo cheguei a cantarolar, bem baixo...
Eu olhei meu relógio, faltavam alguns minutos para meu compromisso e percebi que no casarão, logo do outro lado da rua, haveria mais um baile. Seus motivos eu desconhecia. Talvez fosse aniversário da filha de algum general, ou simplesmente algum senhor quisera agradar a comunidade.
Quando o simca chambord estacionou, e devia ser o modelo do ano, um 1958, vermelho e branco, com a lataria brilhando. Estacionou, e dele desceu egrégio senhor, de terno branco, gravata preta, cabelos com brilhantina. Fiquei a imaginar-me dirigindo um daqueles! Mas claro, nossa situação não permitiria que eu possuísse um belo automóvel como o do tal homem.
Tomei mais um gole do café. E vi o proprietário do simca chambord atravessando a rua, com passos largos e calmos, até que chegou à minha mesa.

- Se importaria se eu me sentasse aqui? - Disse ele

“De forma alguma”, respondi, ressabiado com a pergunta do homem. Pois havia mais de cinco mesas disponíveis, e ele quis sentar-se logo em minha mesa. Chamou o garçom e pediu um capuccino. Recostou-se na cadeira de ferro, e olhou para o tal casarão. Começou então a me dizer então, do que se tratava a tal festa, e que ele não queria estar ali. Preferia, assim como eu, aproveitar a noite tomando um café, solitário, saboreando seu charuto. O rapaz era amigo da filha do anfitrião, e por isso estava ali. Reclamava de como era incomodo fazer parte daquele círculo, e que gostaria de abrir mão desses eventos torpes. Porém necessitava “fazer o social” e isso sempre lhe demandava a presença em tais ocasiões. Ele falava com certa tristeza, enquanto fitava o movimento do outro lado darua. Parou de falar quando o garçom deixou o capuccino à sua frente. Educadamente o senhor agradeceu, e sorriu para mim, tomando seu capuccino. Um silêncio tomou conta de nossa mesa, e eu queria lhe dizer que dava tudo para estar naquela festa com Glória, mas achei que não seria de bom tom, e ficava pensando em outro assunto, enquanto ele distraído, se deliciava com o que havia pedido.
- É um belo carro... – eu falei com breve sorriso.
- Simca Chambord é perfeito. –Disse ele, colocando a xícara em cima da mesa, e estendendo a mão para me cumprimentar – Foi um prazer.
Cumprimentamo-nos, e ele levou sua mão ao bolso deixando o dinheiro abaixo da xícara. Passou as mãos nos cabelos, ficou de pé, e voltou-se em direção ao seu destino inicial.
Na calma em que chegou, foi embora. Lembrei-me de olhar no relógio, e vi que a sessão de cinema já havia começado...
“Maldita Glória, me deixou aqui novamente esperando”, resmunguei enfiando a mão no bolso.
Levantei-me, paguei meu café, e saí à procura de um táxi. Mas não deixei de pensar o quão maldita era Glória. Mas isso acabaria naquela noite.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

К понятым одним.

de Thiago Berzoini

他們是傻瓜,

那□等待定型性在我的文本裡。

Um tapete de fios dourados

de Thiago Berzoini
Ele queria tecer um longo tapete de fios dourados para que ela pudesse caminhar, soberana, sobre ele, com seus pés delicados que a cada passo pareceriam pisar em estrelas e seguindo o tapete, chegaria ao que se tornaria o seu palacete. Mas tempo não havia para ele tecer coisa tão longa, estaria velho, e o Tempo não perdoa as pessoas mortais, como ele. Resolveu parar, então, de fitar sua fiadeira.
Lembrou também que não havia ouro, nem cabelos de anjos para tecer o tal tapete. Mas não lhe saía a idéia do tapete de sua mente, dia após dia, noite após noite. Resolveu que o faria, mesmo que terminasse já velho.
Vestiu a túnica humilde, verde musgo, que possuía e foi caminhar por entre as pedras do caminho outrora esquecido, pensando em como realizar o que havia idealizado. E caminhou com seus pés descalços durante tantos anos que seus pés eram carne viva. Ainda assim buscava incessantemente o material para concretizar sua obra. Ao longo do caminho, muitos foram os que o trapacearam em sua procura, e assim, o Tempo passou.
Nunca encontrou os materiais que precisava, e seu tapete não foi tecido. Certo dia, cansado, sentou-se à beira de um lago, e olhando o horizonte percebeu o quanto havia se afastado de seu objetivo. Não era o tapete, mas a mulher que andaria sobre ele que lhe era importante. Resolveu voltar, mas a caminhada era deveras longa e os caminhos não eram mais os mesmos.... Ele jamais tornou a vê-la.
E ela? Ela morreu... lamentando jamais ter sido amada.
* texto reduzido para se adaptar ao blog.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Caiu...

de Thiago Berzoini

"O pão francês caiu no chão!" Pensou enquanto olhava-o, saboroso e vistoso, caído, balançando quase imperceptivelmente, ainda devido a dura queda.
Era o último. Olhou no saco de pães, remexeu, e não havia mais nenhum. Olhou para os lados, estava sozinho, e catou mais do que depressa o pão do chão, num movimento brusco e ágil. "Espanou" com as mãos, bateu nele, e sorriu. Soprou pra garantir que estava limpo, e ainda esfregou-o nas mãos. Guardou no saco de onde ele havia escapulido de suas mãos. Como se nada houvesse acontecido, deu meia volta, e lentamente com um sorriso no rosto, voltou ao seu quarto...
- Eu que não vou na padaria buscar pão com esse calor. - Concluiu, sentando-se em sua poltrona.

Serenar

de Thiago Berzoini

A revolta se foi...
E ando pelas arestas
- assim, meio sem pressa -,
das coisas importantes.

Culpa de teus olhos.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Visita ao escritor do 205, na Rua da Cerejeira.

Thiago Berzoini
Ouvia os ponteiros do relógio, com seu barulho costumeiro - um tique-taque até comum, pela madrugada afora. Madrugada mais silenciosa, e mais ansiosa do que de costume.
Madrugada que não foi nada produtitiva, sabia o que escrever mas não escrevia. Apenas esperava, e esperar é verbo tortuoso. Ainda mais com o calor, dentro do quarto, enquanto ele acertava as folhas em sua máquina de escrever e com o indicador ajeitava os óculos na face. Isso lhe ioncomodava mais ainda, estava quente, insuportavelmente quente, e ele gostava do frio. Era mais aconchegante, em casa, no frio. tomar chá e escrever.
No calor, tomava água, colocava a caneca na mesa de madeira vistosa, e começava a redigir enquanto suas mãos, suavam, e sentia-se incomodado quando so dedos batiam velozmente nas teclas. No frio, as mãos se esquentavam com o movimento, redigindo incessantemente, quando lhe havia a certeza das palavras na mente, e só, então lhe bastava deixar os dedos correrem livres pelo teclado. Tal qual hoje, porém, o calor lhe deixa mais indeciso quanto às palavras, lhe deixa lento e sonolento.
Uma vez arrumada a folha na máquina, sentou-se e bebeu um pouco de sua água. Na mesa, livros, caneta tinteiro, e seu gato, que charmoso, passeava por entre os seus pertences.
Olhou para a janela, o luar deixava a luz adentrar no recinto, enquanto as velas no candelabro cuidavam de provir a iluminação necessária para escrever. Era um clima propício, ele gostava do cenário. Seu gato, de súbito pula para a beirada da janela, onde ficou a miar.
Ele em sua cadeira, bebia sua água, e se preparava, perdido em pensamentos para mais uma madrugada de trabalho, solitário, como sempre.
Bateram à porta. E pelo horário isso não deveria acontecer, pois mesmo que fosse ainda mais cedo, ele não esperava visitas, jamais ninguém lhe visitava. Sabia que ali, ao baterem em sua porta, havia algo fora do plumo.
Ali começariam seus problemas. mas ele só soube disso, alguns minutos após atender a porta. Por hora, ele se atentava em dirigir-se até a sala, calmamente, quase que sorrateiro.